26 novembro 2009

CAR SHARING...


Você já ouviu falar em car sharing? Significa compartilhar um carro, uma tendência em cidades europeias e americanas que desembarca em São Paulo. Mais que uma locação de veículo por hora, com custos como seguro e combustível já incluídos, trata-se de uma forma mais racional de usar um automóvel: você dirige quando realmente precisa, e não porque tem um carro à disposição. Um raciocínio tão válido quanto complexo numa metrópole congestionada e carente de transporte público de qualidade.




Quem lança o desafio de repensar o uso do automóvel em São Paulo é a Zazcar, empresa inspirada em exemplos como o da americana Zipcar – maior rede de car sharing do mundo, com receita anual de 130 milhões de dólares e crescimento estimado em 30% – ou o da pioneira Mobility, da Suíça, nascida de iniciativas entre amigos que hoje reúne 84500 associados e 2200 veículos. Nos primeiros 45 dias de operação da Zazcar, que oferece dez carros com ar-condicionado e direção hidráulica em quatro pontos, aproximadamente 40 motoristas se cadastraram no site da empresa (www.zazcar.com.br) – metade tem um automóvel.

São pessoas como o gerente de tecnologia Daniel Borin, 25 anos, que há três anos saiu de Bauru, no interior do estado, para viver na capital. Ele trabalha em uma corretora do mercado financeiro e automaticamente verifica o custo-benefício de seus gastos. Foi assim que ele decidiu morar perto do escritório, na região da Paulista, e vender o VW Gol que usava diariamente em sua cidade natal. “Só o preço mais alto do seguro me fez desistir de ter carro aqui”, afirma.

Para visitar a família, Borin aluga um carro da forma convencional e, no dia a dia, vai de táxi quando necessário. Uma tarde, um amigo voltou do almoço e lhe deu um folheto da Zazcar. “É uma boa para você, não?”, disse o colega. Borin testou o car sharing numa noite, para ir a uma balada marcada em cima da hora. “Ficaria caro ir de táxi e resolvi experimentar [o serviço]”, afirma. Ele reservou um Fiat Punto 1.4, retirou o carro perto do Conjunto Nacional e foi ao encontro dos amigos. No local, ligou para a empresa para estender o período do aluguel e pediu uma indicação de caminho para a volta. No dia seguinte, Borin foi ao trabalho sem carro, como faz todas as manhãs.

TER OU NÃO TER?

Felipe Barroso, 31 anos, sócio diretor da Zazcar, explica que esse é só um dos perfis de cliente que espera conquistar com o serviço, inaugurado após seis meses de estudos e viagens para cidades da Europa e dos Estados Unidos atendidas por empresas de car sharing. “O conceito é servir de alternativa à posse de um carro sem abrir mão do conforto de dirigir um carro quando a pessoa quiser ou precisar”, afirma. “Compartilhar um automóvel também é mais ecológico: mais pessoas usam o veículo e elas aprendem a dirigir só quando necessário, reduzindo a emissão de poluentes.”

Como na maioria das iniciativas, a Zazcar deixa sua frota em estacionamentos 24 horas perto de estações de metrô – no caso, as da linha 2-Verde – e o associado retira e devolve o veículo no mesmo local. Há uma taxa de adesão de 60 reais e mensalidade que vai de 15 a 600 reais: quanto mais alto o valor fixo, maior o desconto na tarifa de uso. Assim, uma hora com um VW Fox 1.0 varia de 22 a 32 reais, enquanto um Honda Civic custa de 44,80 a 64 reais. A título de comparação, a Zipcar cobra 11 dólares (20 reais) pelo Civic e oferece um híbrido Toyota Prius por 8 dólares (cerca de 15 reais) a hora.

Ainda assim, Barroso diz que compartilhar um carro é mais barato que ser dono de um automóvel com baixa rodagem, quando se somam os custos de seguro, combustível, manutenção e depreciação do veículo, entre outros. “Quem dirige menos de 10000 km por ano perde dinheiro sendo dono de um carro”, afirma. Os cerca de 800 novos automóveis que diariamente chegam às ruas de São Paulo, capazes de formar uma fila de 90 km todo mês, são mais um número dessa equação sobre o uso do carro na cidade – seja você o dono ou não.

PELO MUNDO

A empresa suíça Mobility surgiu em 1987, da união de dois grupos de car sharing, ambos com um carro. Em 1998, o serviço chegou aos Estados Unidos, onde 323681 pessoas dividiam 7772 veículos, segundo estudo da Universidade da Califórnia. Esse crescente mercado já atrai marcas como Toyota e Ford, ambas parceiras da Zipcar. “Não só não tenho medo, como vejo [o car sharing] como uma chance para participarmos das mudanças relacionadas à posse de um carro”, disse à revista Fortune William Clay Ford Jr., bisneto de Henry Ford e presidente do conselho da montadora.

COMO FUNCIONA

Não fosse a evolução da tecnologia, provavelmente o car sharing não se disseminaria da mesma forma. Nas primeiras iniciativas, os associados tinham a chave de um cofre, onde eram guardados o livro de reservas e a chave do carro. Hoje, basta um cartão e um computador de bordo para o sistema funcionar. Veja como:



O associado faz sua reserva por telefone ou pela internet. No estacionamento, ele abre o carro aproximando o cartão de um sensor instalado no para-brisa.



O computador de bordo instalado no carro faz perguntas sobre as condições do veículo e só libera a chave do carro após esse questionário ser respondido.



Durante o uso, o motorista aciona o motor e trava as portas com a própria chave do veículo. O modelo deve ser devolvido no mesmo estacionamento onde foi retirado.

VOU OU NÃO

Os prós e contras do car sharing:

- Combustível: você retira o carro com pelo menos um quarto do tanque e pode abastecer em postos conveniados. Se pagar pelo serviço fora dessa rede, a empresa reembolsa o valor.

- Distância: a tarifa inclui até 100 km. Não é pouco para uso urbano, mas insuficiente para ir a Santos e voltar, por exemplo.

- Planejamento: é preciso reservar a hora de retirada e a de devolução. Imprevistos fazem a conta ficar salgada.

- Manutenção: você não precisa fazer revisões nem consertos. Mas tem de confiar na empresa e em quem usou o carro.


Parte deste material foi gentilmente cedido pela revista quatro rodas.



O car sharing é uma iniciativa inteligente e ecológica na qual o primeiro objetivo não é reduzir a circulação de automóveis, como é dado a entender, é sim reduzir a posse de automóveis por parte das pessoas. Contudo o ideal seria que a frota fosse, na maioria, integrada por carros de pequeno porte movidos por combustível limpo e renovável.

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